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me baking

COMO TUDO COMEÇOU...

O pão chegou até mim à cerca de 13 anos. Acabada de sair da universidade com um diploma pelo qual não estava apaixonada, eu andava à procura do meu lugar no mundo, da minha vocação. Sabia que tinha de fazer algo tangível e real. Mas o quê? Saí de Portugal com esperança que a vida me dissesse. E disse!

Durante um ano eu fiz voluntariado numa cozinha vegetariana e orgânica numa escola/comunidade de 100 pessoas. Nessa cozinha fazíamos tudo. Pela primeira vez trabalhei com diferentes fermentos, e a combinação de arte e ciência que caracteriza a cozinha fascinou-me. Em pouco tempo tornei-me responsável pela produção pão. Fiquei mais dois anos nesta comunidade, acabando por me tornar na cozinheira principal.

Apaixonei-me pela comida. Mais precisamente, apaixonei-me pelo poder gentil que a comida tem de juntar pessoas, de criar sorrisos e fazer-nos sentir seguros. Comida é casa, família, comunidade.

Pessoalmente, o pão deu-me o significado e sentido de vida que eu procurava. Sendo uma pessoa naturalmente introvertida, nem sempre é fácil integrar, expressar e sentir-nos parte de algo. Através do pão eu consegui expressar a minha criatividade e amor pelo outro, e de sentir que era parte integrante da minha comunidade.

TORNANDO-ME PADEIRA...

O meu percurso para me tornar padeira artesã profissional envolveu leitura obsessiva, muito pão assado em casa, cursos e voluntariado até ter conhecimento suficiente para trabalhar numa padaria e ser paga.

Beber o conhecimento de diferentes padeiros e padarias foi a melhor experiencia educativa possível. Tive a oportunidade de aprender processos e técnicas, e comecei a saber entender a massa. Trabalhar num ambiente profissional também me abriu os olhos para a importância do método, rapidez, repetição e para as inevitáveis longas horas de trabalho.

Um pão assado é como chegar ao cimo de uma montanha. Todos queremos lá chegar, mas o cimo é apenas um curto momento da jornada. Temos de desfrutar todo o caminho!

Trabalhei em tres padarias diferentes em tres países diferentes. Conheci moleiros e agricultores ao longo do meu percurso também. E algo que todas estas padarias tinham em comum era: respeito pela arte, processos lentos e artesanais, e apreciação uns pelos outros. 

Estes tornaram-se os meus padrões de trabalho.

me holding a big loaf of bread
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UMA COZINHA DIFERENTE...

Depois de trabalhar alguns anos em restaurantes e padarias, a aventura chamou-me em Novembro de 2019. A oportunidade de atravessar o oceano nm veleiro apareceu e eu não disse que não. Ia ser a cozinheira a bordo de Tres Hombres, um veleiro de carga sem motor, puxado apenas pelo vento e engenho humano. Nos próximos 9 meses o meu objectivo seria alimentar e nutrir uma tripulação de 15 marinheiros esfomeados!

Numa cozinha sem frigoríficos, congeladores nem qualquer outro equipamento eléctrico, e por vezes sem ver terra por mais de 6 semanas, eu tinha que repensar toda minha abordagem á comida. Era necessário muito planeamento mas também criatividade em fazer o melhor com pouco. Aprendi a apreciar e agradecer a comida que era possível. E testemunhei os poderes curativos de uma humilde refeição quente.

Humilde e curativo era também o pão que se fazia todos os dias a bordo pois, embora não fosse o mais bonito ou perfeito, enchia-nos a barriga e a alma nas noites frias e molhadas.

Esta mudança não foi inesperada. Foi uma chamada para voltar as raizes, para o que a comida realmente significava para mim: comunidade. Eu quero conhecer cada pessoa para quem eu cozinho. Quero conhecer a sua historia, ver a sua cara quando dão a primeira dentada e ouvir a sua opinião. Eu eu quero partilhar a minha historia também. Comida sem conexão perde o seu ingrediente principal.

PÃO E BARCOS...

Os ventos alísios levaram-me para Oeste e aqui acabei por ficar 3 anos.

Mal acabei de por os pés na terra e comecei a trabalhar para AstilleroVerde, um estaleiro muito especial nos mangais da Costa Rica. Aqui, Ceiba, um veleiro de carga de madeira com 45m, estava a ser construído á mão, e uma ONG irmã estava a devolver á terra e á comunidade local, oferecendo oportunidades educativas e outras formas de empoderamento social.

 

Com orgulho, tornei-me na só a padeira do estaleiro mas também comecei a ensinar as associações de mulheres locais e outros membros da comunidade como fazer pão. Isto foi para mim especialmente gratificante pois este conhecimento, numa zona de baixos salários, pode abrir muitas portas para estas mulheres, promovendo a segurança alimentar e ate criando fontes alternativas de rendimento.

 

Confiante e motivada, decidi começar a minha jornada sozinha, e em 2022 iniciei o meu projecto em Monteverde, uma aldeia nas montanhas da Costa Rica. Nasce WildCultures.

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WILDCULTURES

Até este momento eu ja tinha trabalhado em vários cenários, em diferentes circunstancias, e com diferentes objectivos: de padarias a veleiros, cidades a aldeias remotas, de fornos tradicionais a lenha a fornos modernos, da produção á formação. Assei pão em continentes diferentes e para públicos diferentes.​

WildCultures nasce como produto da riqueza destas experiências e da minha vontade de partilhar. Foi-se definindo organicamente, primeiro como uma micro padaria, depois como uma plataforma educativa. E, embora WildCultures possa ter várias expressões, uma coisa é certa, nunca perderá os seus alicerces:

  • proximidade da comunidade

  • qualidade e honestidade do produto e serviço prestados

  • desejo de melhorar e partilhar

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