
A CRESCER...
Em 2020 nasce WildCultures. Um espaço de 35m2 localizado nas linda montanhas da Costa Rica tornou-se numa casa e numa padaria. Sobretudo uma padaria! Equipamento comprado: um forno a gas feito na região, um frigorifico em segunda mão, uma mesa, uma balança e 12 banettons. Com pouco mais de 1,000€ de investimento eu estava pronta a começar!
Depois de ter trabalhado com os melhores ingredientes na Europa, foi um pouco difícil ter de usar farinhas não orgânicas, definitivamente não locais e sempre com aditivos. A cultura do pão na Costa Rica é muito diferente da da Europa. Lá, o pão industrial e ultra processado é rei, e a procura por um produto melhor só começou nos últimos anos. Resignada ao facto de não poder usar os ingredientes que queria, compreendi qual seria o meu papel como padeira naquele contexto. Eu tinha de fazer o melhor que podia com o que tinha, focar-me nos processos e sensibilizar o público para o que é bom pão.
Assim, comecei a experimentar com farinhas e formulas. Os meus primeiros pães foram para amigos e, tal como acontece em localidades pequenas, a palavra espalhou-se. "Que pão novo é este?", "Sabe tal e qual ao pão que a minha avó costumava fazer!"
A PADARIA...
No inicio eu fazia entregas de taxi, depois evolui para uma mota. Mas quando a temporada das chuvas começou e os pedidos aumentaram, finalmente consegui comprar um carro. Como não tinha uma loja aberta ao publico, os meu cliente e eu encontrávamo-nos no parque central da aldeia onde vivíamos para a recolha do pão, um café e dois dedos de conversa! Em poucos meses já tinha uma lista de 100 clientes que compravam o meu pão e outros produtos regularmente. Mais que isso, construímos uma comunidade em torno da comida. Conhecia todos os meus clientes pelo nome, onde viviam, a suas famílias, a sua historia. Conhecia a casa final de cada pão.
Por 2 anos WildCultures operou desta forma. Fazia diferentes tipos de pão de massa mãe, baguettes, focaccia, tartes, bolos, bolachas, e também chutneys e marmeladas sazonais. Sem intermediários e em proximidade com os meus clientes e amigos.
Também fiz parte de outros projectos comunitários que tinham como objectivo aumentar a soberania alimentar e promover a economia local. Falo da Horta Comunitária, Centro Comunitária e um Mercado muito especial onde só se podia pagar com a moeda local.


DEIXAR UM LEGADO...
Muito rapidamente tornou-se evidente que a comunidade tinha necessidade de muito mais que bom pão. Restaurantes, cafés e pessoas em geral estavam ansiosas por aprender a fazer pão a sério e queriam elevar o seu padrão em relação ao pão. Partilhar o que eu sabia e adorava fazer tornou-se uma responsabilidade para com o lugar que me acolheu de braços abertos, e um legado que me deixou muito orgulhosa de deixar para trás.
Os últimos meses de WildCultures na Costa Rica foram focados exclusivamente em formação e consultoria. Acostumada a estar por trás do palco com massa até aos cotovelos, começar a ensinar não foi um passo fácil, mas foi de certeza o mais recompensador. Num lugar onde a oferta de pão é limitada e pobre, saber fazer pão saudável e delicioso não é um conhecimento redundante mas uma habilidade necessária. O sucesso destes workshops foram prova disso mesmo!
Conhecimento dá-nos a oportunidade de fazer as nossas próprias escolhas e de sermos mais independentes de um sistema em que não acreditamos. E eu quero continuar a fortalecer as pessoas com este conhecimento antigo, que já todos já tivemos um dia, e encarar a vida de frente um pão de cada vez!
E AGORA...
WildCultures cruzou o oceano!
Depois de descobrir que eu e o meu companheiro íamos ser pais, decidimos voltar para Portugal, a minha terra natal. Sem dúvida que WildCultures tinha de continuar agora em terras lusitanas.
Estabelecemo-nos numa linda aldeia perto de Tábua. Casa pequena, forno a lenha enorme. Tinha de ser para nós! Estamos a finais de 2024 e eu vou buscar a primeira remessa de farinha. 2025 começamos!
Temos muitos sonhos para WildCultures mas por agora estou focada em desenvolver as minhas receitas, e em criar uma linda comunidade de clientes, parceiros e produtores. Brevemente espero poder também oferecer workshops, presenciais e virtuais. Por agora, aguardem pacientemente enquanto eu navego esta nova etapa com um bebé de 1ano que não larga a mãe!
Se gostaria de ser um ponto de recolha do nosso pão entre em contacto!
